As crianças podem ter Pedras nos Rins?
Ao contrário dos mais velhos, muitas vezes as queixas nas crianças são inespecíficas, como dor abdominal e sangramento urinário, tornando o diagnóstico da litiase renal nas crianças difícil e com necessidade de alto índice de suspeita.
Enquanto nos adultos a principal causa das pedras é a baixa ingestão de água, as crianças podem ter alterações metabólicas, ou seja: o rim pode ter facilidade em formar cálculos por excesso de sódio, cálcio, ácido úrico ou falta de um componente chamado citrato em até 70% dos casos.
É por esse motivo que o tratamento dos cálculos das crianças tem duas bases: livrar os rins dos cálculos já formados ALÉM de realizar exames de sangue e urina de 24 horas para avaliar a presença das alterações metabólicas que podem ser as responsáveis pela formação das pedras.
Os cálculos na criança têm basicamente os mesmos componentes do adulto, sendo os formados por cálcio os mais frequentes. A incidência das pedras nas crianças tem aumentado nos ultimos anos principalmente por conta do aumento da obesidade infantil, doença endêmica que promove o aumento da eliminação do sódio pela urina, além do ácido úrico, que é acompanhada da alimentação irregular e em excesso.
Outra diferença na abordagem da criança com suspeita de cálculos renais é o exame a ser realizado para diagnóstico: enquanto que o melhor exame a ser realizado nos adultos é a TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA de abdome, preferimos inicialmente a realização de um ULTRASSOM DE APARELHO URINÁRIO.
Existem dois motivos básicos para a utilização do ultrassom para diagnóstico de cálculos nas crianças:
1) RADIAÇÃO : a tomografia computadorizada tem uma dose( mesmo que baixa) de radiação que é cumulativa. Como as crianças têm uma enorme expectativa de vida, vale a pena evitar as tomografias quando podem ser substituidas por exames de menos complexidade.
2) FACILIDADE DE LOCALIZAÇÃO DO CÁLCULO: o ultrassom tem como característica a maior definição do diagnóstico quanto menor a distância entre o que se quer observar do aparelho. Como as crianças tendem a ser mais magras e menores, o ultrassom tem maior capacidade de diagnosticar e localizar cálculos urinarios nas crianças.
Nesse contexto inicialmente utilizamos o ultrassom tanto para diagnóstico quanto para planejamento do tratamento dos cálculos nas crianças.
Em linhas gerais existem quatro modalidades de tratamento, algo bem semelhante ao tratamento nos adultos: 1. Ondas de impacto extracorpóreas 2. Endoscopia urológica 3. Cirurgia percutânea (pequeno corte na região lombar, próximo ao Rim) 4. Cirurgia laparoscópica, esta utilizada em casos específicos.
- Litotripsia extracorpórea– Tratamento de escolha em muitos pacientes com cálculos nos rins e ureteres. Sendo um procedimento sem necessidade de cortes e realizado com sedação, pode ser realizado ambulatorialmente com alta no mesmo dia. No entanto tem indicação específica sendo reservado para determinados tamanhos e densidade de cálculo.
Nas crianças a taxa de sucesso da litotripsia extracorpórea é muito maior que nos adultos, alcançando até 63% de sucesso de eliminação de cálculos em apenas uma sessão de litotripsia.
- Ureteroscopia – Cirurgia realizada por meio do acesso ao cálculo por meio da uretra, bexiga, ureter e finalmente chegando ao rim. Tem a vantagem de utilizar os orifícios naturais para o acesso aos cálculos, levando a uma recuperação rápida do paciente e rápido retorno às atividades. Os aparelhos estão evoluindo e tornando-se cada vez menores, de modo que o acesso da ureteroscopia flexivel nas crianças é cada vez mais acessivel e factivel, com taxas de sucesso superiores à 98% com uma aplicação.
Imagem radiografica intraoperatória de aparelho flexível de ureteroscopia chegando ao rim repleto de cálculos